quarta-feira, 25 de março de 2009

"As gravadoras ainda podem sobreviver"

Para o especialista, a mesma internet que quase destruiu a indústria é agora a grande chance de salvação do negócio

Divulgação
Knopper: "As gravadoras cometeram o erro de combater os sites de trocas de músicas"

Por Tatiana Gianini | 19.03.2009 | 15h28

Revista EXAME -

Colaborador das revistas Wired e Rolling Stone, o jornalista americano Steve Knopper acaba de lançar nos Estados Unidos o livro Appetite for Self-Destruction: The Spetacular Crash of the Record Industry in the Digital Age ("Apetite para a autodestruição: a espetacular quebra da indústria das gravadoras na era digital", ainda sem previsão de publicação no Brasil). Na entrevista a seguir, Knopper fala sobre o impacto da internet na indústria da música e discute os caminhos para trazer de volta os lucros das empresas do setor.

1) Entre os erros cometidos pelas gravadoras, qual foi o que mais contribuiu para a crise atual?
Quando o Napster, primeiro programa de compartilhamento de músicas pela internet, surgiu, na década de 90, as gravadoras tentaram combatê-lo em vez de buscar alianças. Isso foi fatal. Quando as gravadoras conseguiram fechar o Napster nos tribunais, os serviços de compartilhamento de músicas na internet não acabaram. Pelo contrário, eles se multiplicaram.

2) Por que as gravadoras fizeram da internet uma inimiga?
Com as vendas dos CDs, as gravadoras detinham o controle de cada passo do negócio, do momento de produção do álbum à compra dele por um fã. A internet representou a quebra dessa cadeia de produção lucrativa. As gravadoras cometeram o erro de pensar que, se processassem alguns sites ou se ignorassem por um tempo a nova tendência, ela simplesmente deixaria de existir.

3) Os acordos para a venda de músicas na loja virtual iTunes, da Apple, selaram a paz entre as gravadoras e a internet?
Realmente, quando a loja surgiu, foi um bom negócio para as gravadoras. Num período curto, 1 bilhão de músicas foram vendidas. Mas o problema é que a iTunes não criou margens de lucros altas para as gravadoras. Tampouco para a Apple, mas para a Apple tudo bem, porque ela só queria usar a iTunes para vender iPods.

4) As gravadoras aprenderam a lidar melhor com a internet?
Elas começaram a ficar um pouco mais espertas, entendendo que as novas tecnologias podem representar a salvação de seu negócio. Está claro que o consumidor atual de música não está mais interessado apenas em ouvir um CD.

5) Qual dos novos modelos de negócios para a indústria musical o senhor considera mais promissor?
Todos eles. Quando lançam um álbum hoje, por exemplo, isso não ocorre apenas no formato CD. As empresas oferecem também as faixas para download em celular e vendem os direitos para videogames como o Guitar Hero, entre outras ações. Isso é inteligente. Poderiam, no entanto, ter feito o mesmo há dez anos.

6) As gravadoras vão sobreviver?
As principais gravadoras vão sobreviver. Sempre haverá algumas delas que vão continuar a produzir estrelas como Beyoncé e Justin Timberlake. Mas está cada vez mais difícil fazer isso.

7) O setor de mídia impressa também enfrenta dificuldades para adaptar seu modelo de negócios à plataforma digital. Os jornais estão cometendo os mesmos erros das gravadoras?
A mídia impressa também não conseguiu encontrar até hoje um modelo online lucrativo. Assim como as gravadoras, os jornais e as revistas precisam virar rapidamente o resultado dessa partida. A história da tecnologia mostra que os velhos participantes do jogo que não se adaptam às novas regras acabam morrendo.

Fonte: Revista Exame

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